"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temo mal algum. A Tua vara e o Teu cajado me protegem"
Vizinha, já fez às contas de quantos anos a gente se conhece?
32 anos!
Temos algumas coisas em comum e muitas diferentes.
Mas, isto não influi no bem querer.
Sabe uma coisa que ambas vivemos e nem todos tiveram este privilégio?
Corremos soltas pelos campos como umas cabritas arteiras.
Eu sempre me senti uma criança livre!
A razão do que agora escrevo, não tem nada a ver com as nossas vidas, tem apenas com o fato de que ambas passamos por momentos difíceis.
Nestes últimos meses, por duas vezes eu quis desistir.
Brincando (ou não), a senhora disse que via uns monstrinhos lhe chamando.
Creio que são as Parcas, figuras da mitologia Grega: Clotocas, Laqueses e Atropos, que fiavam, dobravam e cortavam os fios da vida humana.
Mande-os embora!
Eles vão e voltam, mas a gente os espanta!
Nestas minhas horas difíceis vislumbro pequena pradaria ao fundo, vejo o que nos pampas chamamos capão.
Na frente do capão há algumas moitas por trás das quais se escondem criancinhas lindas todas de cabelos curtinhos e encaracolados.
Elas me chamam e se escondem!
Sorriem sempre...
Não sei o que tem por detrás das moitas.
Mas ainda não é desta vez que vou verificar.
Vizinha
Data: A dez anos atrás.
Ainda viva, em tratamento de quimioterapia uma amiga querida escreveu este texto para a vizinha e amiga de muitos anos.
Capão=mato isolado no meio de um descampado
Contribuição de Carmen Ary Ferreira
Texto de Cléa Ziebell Ary
Fico lisongeada amiga de contribuir e fazer parte das tuas publicações.
ResponderExcluirCarmen Ary